Ex-comandante das forças de paz da ONU na República Democrática do Congo (RDC), o general brasileiro Santos Cruz afirmou estar decepcionado com a atual postura política da comunidade internacional e da Organização das Nações Unidas (ONU) diante da invasão da cidade de Goma, no país africano.
O militar afirma sentir-se “frustrado” por todos os soldados que morreram para impedir que a milícia M23 conquistasse a cidade à época em que ele liderava as forças de paz no local, em 2013. No último domingo (26), anos depois do trabalho bem-sucedido de Santos Cruz, os rebeldes conquistaram seu objetivo.
– Me sinto frustrado por aqueles que morreram acreditando que [a política que levou à derrota do M23 em 2013] teria continuidade. Eu me lembro do rosto de cada soldado que eu perdi – lamentou, em entrevista ao Gazeta do Povo.
À época em que liderava os chamados capacetes azuis, Santos Cruz adotou uma política linha dura, detalhada por ele no Relatório Cruz, que passou a ser um tipo de guia das missões de paz. Segundo o documento, a ONU não deveria se portar como uma força reativa e espalhar seus militares em posição de defesa em países conflagrados. Pelo contrário, deveria atacar os rebeldes antes mesmo que eles conseguissem se organizar e ferir civis.
Entretanto, após a saída de Santos Cruz e as trocas de generais, essa política mais rigorosa se perdeu. Em 2021, o M23 conseguiu se reorganizar em segredo – com a ajuda do país vizinho, Ruanda – e lançou, em janeiro deste ano, uma ofensiva, invadindo cinco cidades: Rubaya, Masisi, Minova, Sake e Goma. O ataque deixou 17 militares da ONU mortos e gerou uma grande crise humanitária.
Para Santos Cruz, a conquista de Goma ocorre não somente por uma disputa étnica, mas também devido às jazidas de ouro, diamantes e coltan, mineral muito utilizado na produção de aparelhos eletrônicos. O militar afirma que “o grande objetivo dos rebeldes é pegar um pedaço do Congo, porque ali tem muitos recursos, é uma anormalidade geológica”.
Na avaliação do general, a última reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre a situação no Congo, realizada na última terça-feira (28), evidenciou uma desmoralização do órgão. Na ocasião, os países somente concordaram que é necessária uma solução política, não militar, pressionaram Ruanda, mas não tomaram medidas concretas.
Cruz, por outro lado, defende a criação de sanções econômicas ou políticas contra os apoiadores do M23, investigações sobre corrupção entre autoridades do Congo, além do reforço militar no leste do país.
– Ela [a reunião] mostrou a posição [política] de cada país, mas de efetivo não tem nada. Não abriram investigação sobre o contrabando de minérios, não investigam como o M23 foi treinado e reorganizado, não fazem investigação sobre crimes sexuais, não cortam a ajuda financeira internacional para os apoiadores dos rebeldes. (…) Gasta-se bilhões de dólares em missões de paz e ninguém é responsabilizado – queixou-se.
NOMEAÇÃO DE GENERAL BRASILEIRO PARA CONDUZIR A CRISE
O general de divisão Ulisses Mesquita Gomes foi nomeado, no fim da tarde da última terça, o comandante da Monusco, a força de estabilização da República Democrática do Congo, que atua ao lado do exército daquele país contra os rebeldes do grupo insurgente M23.
O anúncio da nomeação de general Ulisses, que atuava no Comando Logístico do Exército, aconteceu em meio à crise desencadeada pela ofensiva dos guerrilheiros do M-23 no leste do país, atingindo a cidade de Goma, a capital do Kivu do Norte, estado da RDC vizinho à Ruanda. O grupo M-23 é formado por integrantes da minoria Tutsi.
A previsão é que Ulisses chegue à RDC na próxima semana para assumir a Monusco. No Brasil, o general chefiou a 7ª Brigada de Infantaria. Também esteve na Minutah, a força de paz da ONU para o Haiti, da qual o Brasil fez parte entre 2004 e 2017. Ele trabalhou ainda no Departamento de Operações de Paz da ONU entre 2017 e 2019. O primeiro brasileiro a chefiar a Monusco foi o próprio Carlos Alberto Santos Cruz entre 2013 e
FONTE:PLENO NEWS
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